top of page

Por um Brasil gigante e humano

  • Foto do escritor: Júlio Moredo
    Júlio Moredo
  • 30 de ago. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 1 de set. de 2021


ree

Na mesma semana em que Milton Ribeiro, mais um membro notoriamente eugenista (“em nome de Jesus”) deste bando apodado de governo, disse, com toda a polidez e salamaleques que uma boa hipocrisia encerra, que portadores de deficiência só “Atrapalham o andamento dos demais numa sala de aula” (pausa para náuseas), o Brasil de verdade, aquele genuíno e no caminho do bem, estreou nas Paralimpíadas do Japão estourando todas as bocas protofascistas e balões de autoritarismo possíveis de quem, com corpo “perfeito”, dedica-se a espalhar ignorância, sectarismo, ódio, inépcia e desinformação.


A despeito de nossa educação (como todas as outras searas nacionais) estar jogada às traças por alguém que não entende do riscado (pode ele ter sido reitor das universidades que quiser, de instrução a cidadãos do século XXI ele nada entende), o ministro presta o desserviço de ameaçar nossos incríveis atletas paralímpicos que nos consolidaram como potência no desporto adaptado com recordes crônicos, pintando de verde e amarelo-ouro um dos capítulos mais nobres, bonitos e valorosos da História esportiva nacional.


No total até agora (e contando, já que estamos a uma semana do fim das provas), foram 12 medalhas douradas, oito prateadas e 15 bronzeadas, um recorde de 35 pódios, algo que supera até as altíssimas expectativas que estes super-humanos brasílicos carregam. Estamos, no momento em que vos escrevo esta coluna-artigo, na maravilhosa sexta colocação do quadro medalhista, à frente de potências do esporte do quilate de Austrália, Itália e Holanda.


Foram coleções de conquistas na natação, com destaque para Gabriel Bandeira, ouro nos 100m borboleta e prata nos 200m livre da classe S14 , e Wendell Belarmino, campeão nos 50m livre da classe S11. Daniel Dias, nosso tubarão das piscinas, com mais dois bronzes na conta, somou um total incrível de 26 medalhas no currículo em sua derradeira Paralimpíada. Nas provas femininas, Carolina Santiago nos deu a alegria de ser campeã após dezessete anos na classe S13.

ree

Pelas pistas atléticas, vimos a comoção de figuras inspiradoras como Beth Gomes e Claudiney Batista, insuperáveis no arremesso de discos, e de Yeltsin Jaques nos 5.000m T11. Saltando o preconceito, o eugenismo e osbstáculos físicos e psicológicos, Sylvana Costa foi a vitoriosa no salto em distância T11. Por fim, o arretado nordestino Petrúcio Ferreira, triunfante nos 100m rasos T47, foi um raio a correr e inspirar corações junto a Wallace Santos e Mariana D’Andrea, Aquiles e Pentesileia do atletismo paralímpico. A dupla foi dourada arremessando e levantando pesos para deleite de quem estava ligado nas telinhas deste lado do globo. De quebra, em quase todas as finais citadas os brazucas tomaram de assalto recordes mundiais e paralímpicos de cada categoria.


Já nos gongos tradicionais do judô, outro baluarte do Brasil em Jogos, Alana Maldonado dourou na categoria até 70kg B3 em eletrizantes confrontos vencidos duplamente por ippon e, na grande final, por waza-ary. Uma emoção para quem foi prata no Rio-2016 e agora atingiu o Olimpo em definitivo após perder parcialmente a visão aos tenros 14 anos.


Fomos também medalhistas no hipismo, tênis de mesa, esgrima sob rodas e remo. No hipódromo foi com o adestramento equino ao som de Aquarela do Brasil de Rodolpho Riskalla, rendendo-nos a prata. No ginásio, as sacadas rápidas das guerreiras Bruna Alexandre e Cátia Oliveira deram em um vice e um terceiro lugar em suas categorias. Com florete à mão, quem prateou Tóquio foi o gaúcho Jovane Guissoni depois de uma campanha quase impecável e imparável de oito lutas e duas derrotas. Nas águas dos canais nipônicos foi a vez de Renê Campos Pereira fazer história e bronzear nossas canoas de skiff simples PR1.

ree

Além deles, claro, menção mais do que honrosa aos demais atletas canarinhos de prata, bronze e sem cor alguma das pistas, piscinas, quadras, ginásios, tatames, canais e gramados. São eles tantos que (in)felizmente não caberiam neste humilde balanço.


A única crítica vai infelizmente para a parca cobertura jornalística ao vivo do canal fechado detentor das transmissões. Estes gladiadores da vida mereciam um destaque à altura de sua capacidade. Apenas uma sintonia a mostrá-los em direto é muito pouco.


Nesta última semana de competições, só peço o mesmo e repetitivo para os demais contentores nacionais: muita disposição, gana, glórias e mensagens de amor, esperança, superação e lucidez deste outro hemisfério do sol nascente. Por aqui há “autoridades” advindas dos mais profundos esgotos morais que necessitam urgente de ouvi-los em alto e em bom som. Talvez assim se coroasse esta campanha histórica tanto ou mais do que a dos próprios Jogos Olímpicos recém-encerrados.


Um forte abraço de quem se orgulha de vocês, lumes nestas trevas, campeões do existir!


Comentários


Júlio Moredo

  • Instagram

Rua Girassol, 1513 - Vila Madalena - São Paulo- SP

contato@literativo.com

(11) 9.9233-6944 , (11) 9.8282-5841

 

 

© 2020 por Júlio Moredo. Todos os direitos reservados

bottom of page