Por Júlio Moredo

Uma realização literária admirável, para o prazer da sua leitura
A ocupação e conquista das terras situadas no lado de cá da linha de Tordesilhas - a quarta parte do mundo, no dizer de Américo Vespúcio - ainda são uma obra em aberto no imaginário dos escritores, como demonstra este romance intitulado O apátrida, que marca a estréia literária do jovem jornalista paulistano Júlio Moredo.
Trata-se de uma narrativa que transforma em memórias póstumas as aventuras e desventuras do degredado tras-montano Cosme Pessoa Fernandes, o Bacharel, desbra-vador de um continente antes de este oficialmente existir.
Abandonado à sua própria sorte no litoral paulista no ano de 1499, entre águas e selvas de sonho e fúria, ali ele foi o percursor de uma colonização que se impôs a ferro e fogo, tornando-se o personagem central de uma história de conquistas, horrores e amores, contada aqui com começo, meio e fim, num trabalho de pesquisa profícuo, que resulta numa realização literária admirável, para o prazer da sua leitura.
Isto para dizer que Júlio Moredo, um estudioso da cultura e história das civilizações, adentra no campo das letras a passo firme, salve ele!
Antônio Torres, membro da Acadêmia Brasileira de Letras, autor de Meu Querido Canibal e Pelo Fundo da Agulha, vencedor do Prêmio Jabuti.
Encantamento à primeira lida
Fui apresentado a Cosme Pessoa Fernandes por Júlio Moredo, quando participei da sua banca de graduação na Faculdade Cásper Líbero. Encantamento à primeira lida. Centrado em suas andanças pela Terra Brasilis, aquele primeiro livro já era instigante. Ao adicionar o ingrediente “apaixonante”, o autor voltou ao personagem para escrever um segundo livro. Este livro, no qual dá corpo à trajetória errática de vida e o romance que fez um promissor jovem do clã dos Fernandes acabar degredado e deixado em Cananeia por Bartolomeu Dias em 1499 – onde se transformou na lenda que entraria para a História: O Bacharel Mestre Cosme Fernandes. Com sua escrita fluida e narrativa envolvente, o jovem autor nos entrega uma obra que se permite vasculhar as memórias nunca registradas desse personagem. Porém, sempre respeitando o rigor dos fatos. Um feito e tanto para um romance histórico de estreia.
Jorge Tarquini, professor nas faculdades de comunicação Cásper Líbero e ESPM, autor do livro
Vinte Mil Pedras no Caminho e coautor do best seller
O Doce Veneno do Escorpião.
A mistura engenhosa de excelente pesquisa e fértil imaginação resulta numa prosa ao mesmo tempo elaborada e fluida, de ritmo vertiginoso
Salvo terraplanistas, ninguém duvida de que chegar até a Lua foi uma das mais admiráveis façanhas da humanidade. Havia o risco de morte, se algum dos cálculos ou dos equipamentos falhasse. Porém, em meados do século XX, dotados de tecnologia avançada, os corajosos desbravadores já eram capazes de antecipar o que poderiam encontrar nos áridos terrenos de nosso satélite natural. Certamente nenhum aliení-gena de pistola laser em punho, como os do cinema ou da literatura.
Coisa bem distinta é avançar rumo ao completo desconhecido, a locais jamais vislumbrados e nos quais de fato podem habitar feras ou canibais, míticos ou reais.
É por isso que poucas aventuras humanas fascinam tanto quanto a dos grandes descobrimentos, capita-neados por portugueses e espanhóis nos séculos XV e XVI. É ao coração desse período que o jornalista Júlio Moredo nos transporta em seu romance de estreia.
Narrado pelo degredado trasmon-tano Cosme Pessoa Fernandes, de apelido O bacharel, O apátrida nos convida a conhecer na intimidade desde os nobres salões lisboetas onde a façanha ultramarina foi gestada até as distantes ocupações pioneiras no território em que seria constituído o Brasil, então dominado por carijós, tupiniquins, guaranis e outros povos indígenas.
A mistura engenhosa de excelente pesquisa e fértil imaginação resulta numa prosa ao mesmo tempo elaborada e fluida, de ritmo vertiginoso, na qual convivem, para deleite do leitor, intriga palaciana, desventura amorosa e a inigualável aventura que era atravessar o Atlântico, passando pela costa da África, rumo à povoação do conti-nente recém descoberto.
Estevão Azevedo, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura com o livro Tempo de espalhar pedras.
